três passos

Júri popular dos réus de Caso Bernardo começa nesta segunda e pode durar 5 dias

Gabriela Perufo e João Pedro Lamas

Fotos: Três Passos News
Casa onde o menino morava está cheia de cartazes de protesto 

ATUALIZADA - matéria atualizada às 11h20min do dia 11 de março de 2019 

O julgamento de um dos crimes que chocou o país pelo grau de crueldade e relação entre a vítima e os acusados começa hoje na pequena cidade de Três Passos, no Noroeste do Estado. Quase cinco anos após o assassinato do menino Bernado Boldrini, na época com 11 anos, seu pai, Leandro Boldrini, e sua madrasta, Graciele Ugulini serão julgados por homicídio quadruplamente qualificado. No banco dos réus também estão Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele, que responde por homicídio triplamente qualificado, e o irmão dela, Evandro Wirganovicz, por homicídio duplamente qualificado. Os quatro ainda são acusados por ocultação de cadáver e Boldrini por falsidade ideológica.

Previsto para começar às 9h30min, o julgamento foi adiado e vai começar às 12h30min. Depois do sorteio dos jurados, a sessão foi interrompida para que os jurados tivessem tempo para ler parte do processo. Defesa e acusação combinaram que vão falar, cada uma, por uma hora para que o tempo de julgamento não se estenda ainda mais. 

Na linha do tempo abaixo, relembre o crime e os principais fatos envolvendo o caso Bernardo.

O JÚRI POPULAR
Em fevereiro deste ano, a Justiça começou a convocar os jurados - são 25 titulares e outros 25 suplentes. Antes do júri, sete jurados serão sorteados. Nos dias que durarem o julgamento, do Fórum (foto ao lado) eles irão até um hotel onde não terão acesso a jornal, rádio, internet e telefone até o fim do júri. Eles somente poderão se comunicar com oficiais de justiça sobre assuntos que não sejam o caso. No total, serão 15 oficiais de Justiça que acompanharão os jurados e testemunhas por tempo integral.

A desobediência à medida acarreta multa de 1 a 10 salários mínimos e exclusão da lista geral de jurados.

Para a sessão de julgamento serão ouvidas 18 testemunhas (5 de acusação; 9 arroladas pela defesa de Leandro Boldrini e 4 pela defesa de Graciele Ugulini). Em seguida, haverá o interrogatório dos quatro réus. Na ordem das perguntas feitas às testemunhas estão a magistrada, a acusação, os advogados dos réus e depois os jurados, se quiserem fazer perguntas. Depois, os réus serão interrogados na mesma ordem das testemunhas.

Ao fim dos depoimentos, começam os debates entre acusação e defesa. Pelo MP, o promotor Bruno Bonamente terá duas horas e meia para argumentar. O mesmo tempo será dado para que os advogados dos quatro réus dividam e façam suas defesas. Depois tem duas horas de réplica, da acusação, e mais duas horas - também divididas entre as defesas dos réus - para as defesas. Se a acusação não quiser réplica, automaticamente não haverá tréplica.

Depois disso, os jurados se reúnem em uma sala, de portas fechadas, e lá vão decidir se os réus são culpados. Eles responderão a uma série de perguntas com as respostas "sim" ou "não" e a partir daí será decidido se são culpados ou não. A juíza Sucilene Engler Werle, da comarca de Três Passos, divulgará a sentença e, em caso de condenação, aplicará as penas.

TRANSMISSÃO AO VIVO
Por causa do tamanho do salão do júri, os lugares são limitados. Parte é reservado para defesas e testemunhas, parte para a imprensa, e o restante distribuído ao público. A sessão julgamento será transmitido ao vivo pelo site e Twitter do Tribunal de Justiça e também conta com a cobertura da equipe do Diário.

Durante os dias de julgamento, a segurança no Fórum de Três Passos será reforçada. Na noite de domingo, 28 policiais do 2º Batalhão de Choque deixaram Santa Maria para atuar no policiamento. A partir desta segunda-feira, o expediente no Fórum de Três Passos será interno e a rotina voltará ao normal no dia 18 de março. Com isso, os prazos processuais serão suspensos, sem prejuízo do atendimento das medidas urgentes e da realização de audiências já designadas, segundo o site do TJRS. 

Os quatro réus estão presos desde o ano da morte do menino, em 2014. Graciele e Edelvânia cumprem prisão na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre. Leandro Boldrini na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). A juíza já determinou que os três fossem transferidos para o Presídio Estadual de Três Passos usando uma cela de triagem para acomodação das mulheres, excepcionalmente nos dias de julgamento. Evandro Wirgnovicz desde que foi preso, em 2014, se encontra na casa prisional de Três Passos.

QUALIFICADORAS DO CRIME
As qualificadoras imputadas ao crime principal, o homicídio, são: motivo torpe, fútil, com emprego de veneno e mediante dissimulação.  

  • Motivo torpe por paga ou promessa de recompensa. A madrasta teria oferecido dinheiro (R$ 90 mil, tendo antecipado R$ 6 mil) à amiga para que esta a ajudasse a matar o enteado, com conhecimento do médico; a denúncia aponta que Leandro e Graciele não queriam partilhar com Bernardo os bens da herança deixada pela mãe dele, morta em 2010
  • Motivo fútil porque Leandro e Graciele considerariam a vítima um estorvo no novo núcleo familiar
  • Crime cometido mediante emprego de veneno em razão da aplicação de superdosagem do medicamento Midazolam - Edelvânia e Graciele teriam adquirido o remédio utilizando receituário azul com timbre e carimbo de Leandro
  • Crime cometido mediante dissimulação: a vítima teria sido conduzida, mediante dissimulação, para acompanhar Graciele na viagem até Frederico Westphalen, e realizar atividade de seu agrado, sem condições de saber a real intenção

No caso em análise, há imputação de aumento de pena por ser a vítima menor de 14 anos de idade na data do fato

O QUE DIZEM AS DEFESAS 
A reportagem entrou em contato com os advogados de defesa dos quatro réus

  • Helio Francisco Sauer, que defende Evandro Wirganovicz, e Vanderlei Pompeo de Mattos, que defende Graciele Ugulini, não quiserem se manifestar antes da decisão do júri
  • Os advogados Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé Vares, que defendem Leandro Boldrini, assinaram uma nota oficial enviada à reportagem: "A defesa de LEANDRO BOLDRINI confia no Tribunal do Júri e espera um julgamento justo, amparado nas provas do processo. O processo fala e o Júri terá, certamente, a sabedoria para ouvir e fazer a tão esperada justiça. Reiteramos o nosso respeito pela nobre atividade desempenhada pela imprensa"
  • Gustavo da Costa Nagelstein, que defende Edelvânia Wirganovicz junto de Jean de Menezes Severo, disse que ao longo do processo a defesa dela já havia pedido cisão do processo, ou seja, que ela respondesse separadamente dos outros réus. Ele também defende que sua cliente não participou na morte da criança: "Nós estamos nos preparando para a solenidade do júri, sabe de toda a repercussão que esse fato tem e nós, como defesa da Edelvânia, também esperamos Justiça. A Justiça é que ela seja condenada e pague pelo crime que ela efetivamente cometeu, a Edelvânia assume ter cometido o crime de ocultação de cadáver do menino, mas em nenhum momento ela assume participação na morte do menino. É óbvio que as circunstâncias todas levam a crer, não podemos falar em prova, que ela participou. Nós não negamos que ela esteve presente no local do crime, mas para ela responder por homicídio ela tem que ter a participação efetiva, a vontade, o dolo, e isso em nenhum momento ela teve" 

COMOÇÃO

Em Três Passos, cidade onde o menino morava com o pai e a madrasta, cartazes e faixas são espalhados por diferentes locais da cidade em homenagem ao menino e também pedindo por Justiça. A casa onde a família Boldrini morou sempre teve, fixado no portão de entrada, cartazes com fotos e mensagens de saudade. No Facebook, existem páginas onde são compartilhadas todas notícias do caso, assim como mensagens de saudade. Uma das páginas, Bernardo Uglione Boldrini - Justiça, reúne pelo menos 105 mil pessoas. 

RELEMBRE O CASO 
Morador de Três Passos, Bernardo Uglione Boldrini desapareceu no dia 4 de abril de 2014, sendo encontrado morto 10 dias depois, em uma cova vertical nas margens de um riacho, no município vizinho, Frederico Westphalen. Laudos periciais atestaram a presença de Midazolam no estômago, rim e fígado da vítima, na época, com 11 anos de idade. A superdosagem do medicamento teria sido a causa da morte do menino. A mãe de Bernardo morreu quando ele era ainda menor e, na época, foi indicado que foi suicídio. A avó do menino, Juçara Uglione, de Santa Maria, lutou por Justiça até sua morte, no ano passado. 

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